quinta-feira, novembro 1

A geladeira por uma vida

Estávamos numa dessas invasões da Asa Norte, no meio dos barracos. Começou a cair aquele toró."Entramos" para nos abrigar debaixo da lona da casa de uma das personagens que entrevistávamos. Era uma pauta de Economia. Agora eu não lembro direito qual era o assunto.

Sei que estava lá, a mulher reclamava. O repórter anotava. E as fotos estavam saindo boas, com aquela chuva toda caindo atrás dela.

Então, chega o marido dela, desce da carroça e nos vê.
O cara se levanta, muito grande, e nos olha de cara feia.
"Entra" na sua "casa" e começa a gritar com a mulher.
Grita com a gente: que cês pensam que tão fazendo aqui?

E tira o facão de sei lá onde.
Começa a riscar o chão.
O repórter que veio comigo fica branco.
Eu penso: vish, será que vamos ter que brigar?

O cara fica mais nervoso. Tentamos explicar que somos do jornal.
Piora a coisa.
A chuva engrossa. Não tem nem como sair.

Quando a situação chega no pior momento, nas ameaças, sai um vizinho.
Ele chega perto já gritando: Não faz nada com este cara. Ele é meu amigo! Esse cara é gente boa. E bate no meu ombro. Eu olho, não reconheço o rapaz alto, fortão, deveria ter uns 18 anos. Mas ele continua: Esse cara aqui tinha uma padaria na Asa Norte. Me dava pizza direto. Quando eles foram embora, deram a geladeira para a gente.

Me assustei, mas reconheci, então, o garotinho que vivia ali na padaria. Era um menininho de rua. Cresceu muito! Gostava dele, sempre dava refri para ele. Minha mãe ficava brava, mas eu dava. Tá vendo? Olha como é a vida...

[Essa quem contou foi Gustavo Moreno, fotógrafo do Correio.]

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei este relato, Fer! E o post das músicas está demais, hehhehe!
Beijos,
Kerol