terça-feira, janeiro 12

Diários Antárticos - parte II

Voltamos ao nossos diários.

Queria contar, antes do gelo, um pouco daqui de Punta Arenas. Mas duvido que esses parágrafos logo lhes interessem.

Então, vou direto ao lead: passei ontem 2h40 em solo antártico. Pensei o que talvez alguns pensaram agora -- praticamente 5 dias fora, horas e horas de C-130 para ficar 2h40 ali? Foi exatamente assim. Vale a pena? Claro. Mas fica o quero-mais!!

Acordamos às 4h da manhã. O voo estava previsto para as 6h. Não saímos. Foi atrasado. Esperamos até às 7h para ir ao aeroporto. Decolamos depois das 8h30.
Metida que sou, fui para onde acho que pertenço, para a cabine. Explico rapidamente: a missão é de responsabilidade da Marinha. A FAB dá apenas o 'suporte' pequeno de levar essa galera toda. O resto quem ve é a Marinha... Então, convidados, pesquisadores, jornalistas, etc, são todos escolhidos, relacionados com a Marinha. Os militares a bordo, em maioria, da Marinha. Nada contra. Mas os meus são os que voam :) Daí, lá fui eu no meio do pessoal... Vi a decolagem de Punta Arenas (liinda, na beira no mar que faz a curva).

Fiquei ali nas outras horas seguintes, de olho nas janelinhas (vejam depois as fotos no flickr).

A hora mais emocionante da viagem foi mesmo o pouso.
Estava na cabine, em pé, atrás dos dois pilotos. (Fiz um videozinho, mas ficou pesado, não consigo enviar por email. Vou dar um jeito e mando depois o link)
De longe, a ilha XX cheia de neve, ao lado, no mar, blocos de gelo, alguns icebergs (eles são azuis!)... Tudo ali na frente e eu ainda sem acreditar. Um silêncio a bordo. 4mil, 3.5 mil, 2 mil pés... E a pista, que parecia um rabisco na neve, fica mais gorda e nítida. Mesmo assim, curta. Ao redor, só gelo, neve. Risco.

O piloto, experiente, faz sua aproximação. Eu tento segurar minha câmera sem tremer, difícil. Não só pela aeronave...

E rapidamente, menos de dois minutos, estamos no chão. Tia Alice, lá embaixo, aplaude o pouso. Merecido. A tripulação, na cabine, troca apertos de mãos. Daí sim percebo que o lance era mesmo desafiador.

Logo estamos pisando na neve. Frio de 1*C, com sensação térmica de -9*C. Isso é verão!! Saímos com um vento de quase 30 nós... E estávamos na Base Chilena Eduardo Frei (a brasileira não tem pista de pouso, pela localização) Alguns mais sortudos, autoridades civis e militares, foram até a brasileira depois, de helicóptero. Muito muito legal ver helicópteros voando por ali.

Dali, fomos para um dos conteiners... para esperar uma "condução" que nos levaria até a "praia". Penso logo: temos só duas horas aqui e eu vou ficar esperando? Depois de ir ao banheiro (normal, sem ser tosco, limpo e com tudo encanado... melhor que muitos de posto de gasolina), resolvi me juntar a outros 2 caras e sair na neve, deixa a condução para os menos Chuck-Norris hehehe

Foram memoráveis 23 minutos de caminhada. A neve derretia, o pé afunda, mas estávamos numa "rua", por ali passavam os "carros", picapes, e aqueles tratorezinhos de neve (perdão não sei como chamam isso)..

Fomos até lá parando a cada espaço interessante para tirar fotos. E eu querendo andar, ai ai ... Mas enfim, quando me dei conta, parei de reclamar e olhar menos para o chão. E sim ao redor. Nada de bichos ou aves. Nada. Nenhuma voz ou barulho, só o vento. Quem já viu nevar sabe: é silencioso. Mágico. Era isso que eu sentia. E frio também. Misturado com calor, pq debaixo de tanta roupa e com uma bota superultramega impermeável, eu suava da caminhada esforçada... (e ainda não havíamos almoçado, só um lanche depois do café das 5h da matina)

Para não dizer que não vimos pinguins: aqui vai a foto do único que deu o ar da graça (vai em anexo). E eu com as duas máquinas, ia alternando: em filme, o que era PB, em digital, o colorido.

Chegamos mais perto do cais e por ali a Base Chilena toda. Fomos à lojinha de souvenirs (meu Deus até aqui canecas, chaveirinhos, broches, imãs de geladeira e cacarecos caro inúteis porém quase irrestíveis) que funciona dentro de um conteiner.

Dali, andamos mais um pouco na neve e já era hora de partir.

Rápido assim.

Voltamos para a concentração, para o corpo voltar a sentir menos frio, tomei água! água! Fora da geladeira e gelada, claro!!!

Depois, voltamos e eu na decolagem, de novo, na cabine :)
Dormi ali, numa maca suspensa, o melhor sono dos ultimos tempos.


FOI MESMO SENSACIONAL :D

Saudades de todos, tenho que ir agora...

bjs

Fe