sábado, abril 8

Comentários cosmopolitas

Estávamos procurando uma livraria famosa de downtonw Amsterdan. Minhas amigas, uma húngara e outra polonesa, me acompanhavam quando resolvemos parar numa cafeteria para... ir ao banheiro. Típica necessidade de mais outro dia chuvoso de inverno da Holanda.

Esperei as duas do lado de fora e um senhor que tomava conta dos toilettes me abordou, com um português de portugal na lata -- que cara lusitana tenho eu?? -- e me fez um comentário daqueles que se guardam para o resto da vida.

-- Mas que belos esses teus "pêlos" que trazes aqui debaixo de seu nariz.

[pasmem]

Isso mesmo. Quase não acreditei no comentário e caí na gargalhada.

Saimos de lá e já na livraria comentei com as polonesa e com a húngara o acontecido, não podia acreditar até então. Mas a surpresa foi maior.

A reação das minhas amigas foi de pânico, de total desconforto. "I can't believe!!"
A vergonha delas foi maior que a minha! Elas mal podiam me olhar depois e não acreditavam no português e acreditavam menos ainda na minha reação, de dar gargalhadas e ficar de boa.

E ainda completaram: E você nem tem nada aí!!

No dia seguinte, corri para comprar uma cera quente. Mesmo com nada, resolvi tirar o nada que trouxe o 'elogio' do portuga. Just in case...

Na loja, comentei o incidente com a inglesa que me atendeu. A reação dela também me surpreendeu. Educada, virou-se e disse: Vai ver que na terra dele isso é sinal de sedução.

Ri mais ainda depois. As diferenças culturais são mesmo motivo de piadas.

[Essa quem contou foi a Fatinha]

sábado, abril 1

Casamento da evangélica amiga minha

Pastor fala demais. Vamos chegar mais tarde na igreja?
Todo mundo da turma de arquitetura topou, claro.

20h30 chegamos e foi o tempo certinho de ver a noiva saindo da igreja, acompanhada do ex-noivo-que-acabou-de-virar-marido.

Me escondi no meio da multidão. Primeira surpresa dentro da minha visão estereotipada: os crentes são pontuais sim.

Ok, sem problemas, o resto da galera - éramos doze mosqueiteiros - nem achou ruim o nosso próprio atraso combinado. Sigamos para festa.

Sem música. Isso mesmo. Não tem música rolando. Choque. Como é que esse povo se diverte?
Continuamos na animação habitual de sempre: piadinhas, conversas em voz alta, risadas aqui e acolá. Não demorou dois minutos para chegarem os olhares reprovadores.

Chega o garçom. Claro que só tem refrigerante.
O mais cara-de-pau ainda pergunta: camarada, você não trouxe uma pinguinha por aí, escondidinha não? O garçom respondeu em meio tom de sorriso educado e seriedade: não pode bebida alcóolica, senhor.

O ambiente era agradável e bem familiar. Até chegar a hora de jogar o buquê. Inacreditavelmente nenhuma das amigas da minha amiga se animou a levantar para esperar as flores voarem e se estapear antes de tentar pegá-las. Será que as evangélicas não querem casar? Me perguntei, de novo, na minha ignorância.

E lá vem ela, com vestido branco, rendado e comportado. Chega na nossa mesa. E de repente todo mundo pára de falar. Pronto, pensei agora ela vai pedir que saiamos da festa.

Meninas, vou jogar o buquê. Diante das nossas caras de tacho, ela insiste: vocês não vão me deixar (com ele) na mão, né?

E ela sai discretamente. Eu não vou. Não quero pegar buquê nenhum. Só faltava essa. As outras nem se abalam de comentar. Buquê o quê?

O frison começa... Vem logo galera, eu vou jogar, hein? Fotógrafo posicionado e nenhuma garota, sim, nenhuma estava lá de pé. Percebi que erámos poucas as solteiras! Me senti rapidamente encalhada. Nossa, que frio na barriga.

Veio a consideração de amiga. Ela não pode ficar ali no meio do salão parada esperando, coitada. Com essa desculpa, me levantei. Algumas vieram comigo, num movimento como uma metralhada de misericórdia. Amigas são para essas coisas, discursei. Combinei com as da minha mesa: a gente fica no fundinho...

Na hora H, todas se afastaram rapidamente. Fiquei quase isolada na frente do "batalhão" de 12 ou 13 garotas (algumas nem tão garotinhas assim). E o buquê, claro, atingiu a minha pessoa. Se fosse bola, juro, matava no peito e repassava.

E para completar o mico da noite... Fui devolver o 'presente' à ex-noiva. Não se faz isso, depois descobri. Mas eu é que não ia levar para casa o buquê que ela entrou na igreja toda emocionada (sim, falei da entrada dela como se estivesse presente lá na hora marcada). Eu disse isso para ela e até que colou. Negociei: eu levo o arranjo da mesa no lugar do buquê, pode?

Ela não ia me dizer que não.

[Essa quem me contou foi a Ludmila.]

As roupas tem história

Foi assim que começou o dia: joguei a frase ao passar de sopetão pelo rapaz: ei, legal sua camiseta de borboletas. A resposta foi uma careta.

Mas, você não gosta? Arrisquei.
Ele não teve dúvidas: a namorada que me deu, daí tem que usar, né?

Logo em seguida, outra roupa personagem. Lá vem o vestidinho de bolinhas da conquista!

Como assim? Ela me pergunta.

Ué, já não se lembra que você o usava quando encontrou seu atual namorado aquele dia que vocês se conheceram?

Mais uma vez: é só elogiar o modelito que a pessoa te conta uma historinha, eu garanto.

Mas de onde você tirou esse sapato verde?

Comprei num bazar, foi só R$ 20. Até hoje não acredito. Toda vez que eu uso alguma coisa diferente acontece.

Sério? E o que foi que rolou hoje?

Tropecei nele, acredita? Quase morri de vergonha no meio da faculdade. Mas vamos sair amanhã para tomar um café.

...

Roupas e pessoas. São marcos e histórias.



[essa coletânea foi adaptada, mas todas aconteceram no mesmo dia]