terça-feira, agosto 24

totalmente sem noção

Foram mais de dois anos em distância. Sem novidades. Ou telefonemas, sms, esquece.
E a vida, num dia de sol sorrindo, lhe traz a surpresa.
Chega em casa com o buquê de flores, nas mãos do ex-namorado.

Depois do silêncio, vem outra tentativa.
Ela nem pensa. Senta e diz, o que?

Depois de meia hora sem convencer, ele lança o melhor argumento:

-- É que você não entende. Você é feia, mas eu gosto de você mesmo assim.

sábado, junho 19

3 filmes e a desculpa, por favor

Ela estacionou longe o carro. Andou devagar. Era um passo de consolo e de força. De quem quer dar tempo ao pensamento, ainda que o tema não tenha variado ultimamente como ela queria. Chegou na locadora para preencher a sexta-feira. Quem sabe, talvez também, o sábado.

E com o olhar pesado, voltou-se para as prateleiras. Só que antes o olhar lhe furtou uma imagem atraente. Passeou pelo corte da calça, cor da camisa, punhos dobrados, mãos expressivas e chegou no olhar, esse o ganhador do atraente adjetivo. Bem aqui na minha locadora?

Rápido, disfarça, se concentra nos filmes e diretores. Sempre me esqueço qual quero ver, e a lista fica em casa. Pensa alto. O rapaz, claro, em pé, ao lado dela, que também usa a dúvida para despistar, responde e não é sempre assim?

E ninguém reclamou quando a atendente avisa que ao alugar 3 filmes, você pode levar mais um, de graça. Mais tempo, mais ensaio, outro papo.

Ela sai de lá sem número, só com o nome na cabeça. Se despede, e usa a recente informação roubada. O rapaz, pressentindo, assume o sorriso sem culpa e acena.

Ela sorri e pensa, não tenho mesmo jeito para discrição.

Dois dias depois, o bilhete. Bilhete? E se usa isso? Ainda bem que tem gente mais desencanada no mundo, pensa ela. E volta para o carro, com a deliciosa pergunta na segunda-feira: ligo hoje ou amanhã?

sexta-feira, junho 4

Sobre lentilhas, abóboras e amigas

Primeira vez na casa dela. Uma amiga em comum a colocou ao lado da vizinha de quadra. Ali estava, depois de um domingo de angústia. Na entrada, vê livros em comum na estante. Depois, chás da marca preferida. E na parede, fotos da época em que a desconhecida dançava ballet.

Em menos de 30 segundos, vários campos em comum. Sem falar na mesma profissão. Sorriu de canto. Se tem uma coisa que ela aprendeu era bater e ver uma boa amizade a se formar.

A nova amiga estava na cozinha. Cortava uma abóbora japonesa com esforço. E o vinho, em cima da mesa, estava aberto e pronto a ser servido. Ia ser uma conversa interessante.

[E o foi. O papo, queridos 8 leitores, vai ficar em off, desta vez. Quero hoje contar da abóbora.]

Depois de cortar, levou ao fogo, avisando às visitantes: vou fazer uma sopa de abóbora com lentilhas. Topam?

Chegou, depois de um tempo, a hora de experimentar. Após os pratos esvaziarem, a surpresa para a mestre-cuca veio.

Uma comenta: eu não gosto de abóbora.

E ela: sempre deixo lentilha de lado.

Mas, naquela noite, depois da carinhosa recepção, não tinha nem porque não tentar. E sorriram todas com a descoberta. Amizade não tem receita.

quarta-feira, junho 2

De volta

Faz tempo que minha palavra se enfeitiçou
Saía bonita só para visitar-te
Sentia-se fina para alegrar-te
Aparecia repentina exclusivamente para cortejar-te

Mas minha palavra, sábia
Percebeu, antes do coração, que precisava universalizar-se
Cansou da covardia de não se libertar

Minha palavra lhe deixou
Bem depois do seu adeus.

Meu coração insistiu, brigou, e a fez voltar
E ela, metida, até apareceu, querendo brilhar.

Mas, tão sabida, de louca se fez
No papel deixou o coração
se despedaçar
Na trapaça dela, veio a redenção dele
E não mais a obrigou a dançar
Logo, a palavra, minha, cansada, deixou o tempo revirar

Volta hoje, frondosa
Disposta a não ter o par.
E quem precisa de um único destinatário
para outra vez se publicar?

Minha palavra volta ao seu lar.

terça-feira, janeiro 12

Diários Antárticos - parte II

Voltamos ao nossos diários.

Queria contar, antes do gelo, um pouco daqui de Punta Arenas. Mas duvido que esses parágrafos logo lhes interessem.

Então, vou direto ao lead: passei ontem 2h40 em solo antártico. Pensei o que talvez alguns pensaram agora -- praticamente 5 dias fora, horas e horas de C-130 para ficar 2h40 ali? Foi exatamente assim. Vale a pena? Claro. Mas fica o quero-mais!!

Acordamos às 4h da manhã. O voo estava previsto para as 6h. Não saímos. Foi atrasado. Esperamos até às 7h para ir ao aeroporto. Decolamos depois das 8h30.
Metida que sou, fui para onde acho que pertenço, para a cabine. Explico rapidamente: a missão é de responsabilidade da Marinha. A FAB dá apenas o 'suporte' pequeno de levar essa galera toda. O resto quem ve é a Marinha... Então, convidados, pesquisadores, jornalistas, etc, são todos escolhidos, relacionados com a Marinha. Os militares a bordo, em maioria, da Marinha. Nada contra. Mas os meus são os que voam :) Daí, lá fui eu no meio do pessoal... Vi a decolagem de Punta Arenas (liinda, na beira no mar que faz a curva).

Fiquei ali nas outras horas seguintes, de olho nas janelinhas (vejam depois as fotos no flickr).

A hora mais emocionante da viagem foi mesmo o pouso.
Estava na cabine, em pé, atrás dos dois pilotos. (Fiz um videozinho, mas ficou pesado, não consigo enviar por email. Vou dar um jeito e mando depois o link)
De longe, a ilha XX cheia de neve, ao lado, no mar, blocos de gelo, alguns icebergs (eles são azuis!)... Tudo ali na frente e eu ainda sem acreditar. Um silêncio a bordo. 4mil, 3.5 mil, 2 mil pés... E a pista, que parecia um rabisco na neve, fica mais gorda e nítida. Mesmo assim, curta. Ao redor, só gelo, neve. Risco.

O piloto, experiente, faz sua aproximação. Eu tento segurar minha câmera sem tremer, difícil. Não só pela aeronave...

E rapidamente, menos de dois minutos, estamos no chão. Tia Alice, lá embaixo, aplaude o pouso. Merecido. A tripulação, na cabine, troca apertos de mãos. Daí sim percebo que o lance era mesmo desafiador.

Logo estamos pisando na neve. Frio de 1*C, com sensação térmica de -9*C. Isso é verão!! Saímos com um vento de quase 30 nós... E estávamos na Base Chilena Eduardo Frei (a brasileira não tem pista de pouso, pela localização) Alguns mais sortudos, autoridades civis e militares, foram até a brasileira depois, de helicóptero. Muito muito legal ver helicópteros voando por ali.

Dali, fomos para um dos conteiners... para esperar uma "condução" que nos levaria até a "praia". Penso logo: temos só duas horas aqui e eu vou ficar esperando? Depois de ir ao banheiro (normal, sem ser tosco, limpo e com tudo encanado... melhor que muitos de posto de gasolina), resolvi me juntar a outros 2 caras e sair na neve, deixa a condução para os menos Chuck-Norris hehehe

Foram memoráveis 23 minutos de caminhada. A neve derretia, o pé afunda, mas estávamos numa "rua", por ali passavam os "carros", picapes, e aqueles tratorezinhos de neve (perdão não sei como chamam isso)..

Fomos até lá parando a cada espaço interessante para tirar fotos. E eu querendo andar, ai ai ... Mas enfim, quando me dei conta, parei de reclamar e olhar menos para o chão. E sim ao redor. Nada de bichos ou aves. Nada. Nenhuma voz ou barulho, só o vento. Quem já viu nevar sabe: é silencioso. Mágico. Era isso que eu sentia. E frio também. Misturado com calor, pq debaixo de tanta roupa e com uma bota superultramega impermeável, eu suava da caminhada esforçada... (e ainda não havíamos almoçado, só um lanche depois do café das 5h da matina)

Para não dizer que não vimos pinguins: aqui vai a foto do único que deu o ar da graça (vai em anexo). E eu com as duas máquinas, ia alternando: em filme, o que era PB, em digital, o colorido.

Chegamos mais perto do cais e por ali a Base Chilena toda. Fomos à lojinha de souvenirs (meu Deus até aqui canecas, chaveirinhos, broches, imãs de geladeira e cacarecos caro inúteis porém quase irrestíveis) que funciona dentro de um conteiner.

Dali, andamos mais um pouco na neve e já era hora de partir.

Rápido assim.

Voltamos para a concentração, para o corpo voltar a sentir menos frio, tomei água! água! Fora da geladeira e gelada, claro!!!

Depois, voltamos e eu na decolagem, de novo, na cabine :)
Dormi ali, numa maca suspensa, o melhor sono dos ultimos tempos.


FOI MESMO SENSACIONAL :D

Saudades de todos, tenho que ir agora...

bjs

Fe