sábado, fevereiro 16

A carioca na Paulista


É inusitado para mim --não esperava por isso -- mas aqui me sinto mais carioca que em Brasília. Naturalmente, vem à tona em mim o contraste no modo de ser rio-sãopaulo.
Ando pela Paulista com isto na cabeça.As pessoas passam, passam, passam. Vão rapidinho, ouvido seu MP3. (Eu também, embora ainda não tenha achado a trilha que combinasse com o perpétuo cinza da cidade).

Noto:



  • Pouca gente anda de óculos escuros, principalmente se comparado com Brasília. Todo mundo olha para você quando sai pela rua os seus. Pensei: ah, é que aqui faz mais tempo nublado que sol... Eu não saio de casa sem óculos. Vim de Brasília, né? Ô cidade ensolarada!

  • As mulheres saem de calça. 80% com certeza. Tons escuros, mesmo no calor. Estampas mais sóbrias. As coloridas se destacam, claro. Tem gente de todos os tipos. Eu continuo a fazer questão da saia. Sou carioca, pô.

  • Bancas na calçada! Que saudades de andar e ver bancas de revista a cada vinte passos!

  • O metrô não tem ar condicionado: so-cor-ro!

  • Fico no vácuo toda vez que vou cumprimentar alguém. Aqui só dão um beijinho no rosto mesmo. Eu sempre dei dois. ;/

  • 89,9% da moçada usa ALLSTAR. Sério. Fazia tempo que não via uma loja de artigos esportivos ter uma vitrine dedicada apenas e exclusivamente a vááários "modelos" (todos iguais, só de cores diferentes) do famoso tênis "retrô".




sábado, fevereiro 9

Com Dickens no bolso e The Flying Burrito's Brothers nos ouvidos

Mal pisei na nova casa de São Paulo, mal arrumei o armário e já saí para viajar outra vez. Fui, com outras 20 loucas, para a cidadezinha de Varrrgem, no interior de São Paulo para fazer um trabalho social e voluntário.

No terceiro dia de trabalho, resolvemos ir visitar os moradores do bairro conhecido como Oswaldão. Dá para intuir que o dono do local chamava-se Oswaldo. Bom, este senhor (que não sei mais se existe ou se é lenda) começou a povoar a região (estilo Roriz, para quem sabe quem é) dividindo os lotes entre os seus empregados.

Conta a lenda da cidade que o Sr Oswaldo ia à capital para recolher novos trabalhadores para sua olearia (fábrica que produz tijolos, até hoje a única atividade rentável do bairro, ao redor da qual todos os moradores vivem e sobrevivem). O trato era beeem básico: você faz tijolos para mim e eu te dou o prato de comida do dia. Os moradores de rua, que nada tinham, topavam. E assim foi.
Hoje, o bairro é ainda modesto, sem nenhuma ordem, sem número nas casas, sem água encanada, muito menos esgoto ou asfalto. É um lamão mesmo. E dessa santa lama saem os tijolos que alimentam os que ali moram, alguns há mais de 15, 20 anos!

Para se ter uma idéia, os trabalhadores (homens, mulheres, crianças, opa!) precisam fabricar 16 mil tijolos para ganhar míseros R$ 15. (O trato inicial, se contarmos bem, parece até mais vantajoso...). Cada tijolo precisa ser modelado, depois vai ao sol (que sol? cadê o sol daqui?). Em seguida, quando eles mudam de cor, vão para a fornalha por 5 dias. Daí é que podem ser vendidos...


Mesmo com o tornozelo prejudicado (torci jogando vôlei, claro), não me aguentei e saí para marcar as fotos que meus olhos viam em todos os cantos. Rapidamente as crianças me viram. Foi uma delícia. Henrique, da foto acima pediu para tirar uma foto. Eu consenti e ensinei a ele pelo menos como enquadrar e como deixar a máquina focar direitinho. Ele ouviu tudo pacientemente, com a maior curiosidade do mundo. Eis a foto dele:






Daí o irmão dele (que sai nesta foto, de jaqueta cinza) também quis tirar uma foto. A irmã, Kelly, aproveitou para pedir o que já estava de olho: tia, posso pô seu óculos? Claro! E tem como negar algo para essas crianças de pé no chão de barro? Eis a segunda foto:


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