terça-feira, março 31

receita pra um diasó

Não é para apenas um dia.
é para o adjetivado dia, na categoria solitário.

Só não de tristeza, mas de quietude e alívio. De respirar mais devagar.De comer com um livro de poesia do lado, para não devorar -- nem o prato, nem as estrofes -- sem saboreá-las nas 32 mastigadas do tiozinho do Green's.

Então, neste dia, (que se repete durante os meses, curiosamente) cozinho como costumo: sem receita a consultar e com o que tem em casa. Só com o carinho de querer comer algo bom e, claro, a inspiração e vigia de Darcy, minha galinha d'angola que fica perto do fogão.

O resultado deste diasó desta semana foi suflê de brócolis com provolone

Pegue dois ovos, bata bem.
Acrescente 3/4 do potinho de iogurte natural desnatado.
Bata novamente (com o fuê e não com batedeira)

Antes, enquanto isso, vá dourando cebola, alho (não pode faltar) no azeite de oliva... Cuidado para não queimar demais!

Daí acrescente a mistura acima.
Vá colocando aos poucos as arvorezinhas (brócolis cortado nos galhinhos)

Abaixe o fogo para mínimo.
Depois, é acrescentar umas duas colheres de milho (de latinha, pode ser), para dar uma corzinha.

Feche a panela com tampa.
Aguarde o tempo de uma faixa do Pet Sounds.

Depois, desfie as fatias de queijo provolone e jogue por cima. Espere um pouquinho, deixe a panela semi-fechada - e ainda tem hífen nisso?

Vigie bem, não me lembro quanto tempo demorou para ficar pronto pois o Tony Belloto me distraiu e deu uma queimadinha no fundo.

Mas no fim, dá um suflê gostoso, com gosto de fui-eu-quem-fiz-e-até-que-não-está-ruim.

Querem tentar?

querem bis?

E quanto mais
silêncio teu

mais fico eu
num vazio
breu

quanto mais simples
deixo a pergunta
esperada

mais anta, mais só
me sinto.

que adianta?

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Tão fácil
tão simples

Uma pergunta

E eu já tenho a resposta
rápida, bala, pronta
para te dar

(mais que a resposta te daria)

Mas só tenho o silêncio

E ainda não sei dialogar só.

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Tenho a mesma pergunta
comigo

Brigo.
Disfarço. Adormeço
e finjo que esqueço

Me visto
me pinto os olhos
a boca

maqueio a dúvida
para isolar a dor

de não saber a resposta
de não querer largar
um amor

segunda-feira, março 30

inéditos - outros antonitos

lembram dos antonitos? ah, então passem primeiro por este post antigo

achei meu bloquinho e volto a postar uns poemitos antigos, ok?

Minto para você
como se quisesse
só apenas uma resposta
com aquela pergunta

Você sabe.
Me vê, pelas 'mentiras',
minhas verdades
tão sozinhas
que você as ignora
e só responde o que eu pedi.

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Outra pergunta teu
nome, no papel público,
me trouxe, hoje...

... e vai ter um dia
que vou me esquecer
de você?

ou vai ter um dia
que vou sentar contigo
à mesa
para almoçar?
como antes?

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Socorreram-me nas saudades
me puseram outras canções no ouvido
outras pautas na mesa

outros blocos às mãos
outras caras ao meu redor

Socorreram-me...
Mas ainda espero o teu remédio.

sábado, março 28

Azul

Defina hoje, por um instante: depois dessas mudanças, qual a cor que diria como você está? Qual a palavra que te vem depois de tomar essa decisão?

>> Azul. Livre.

Escreva o texto. Não pense muito. (parte mais difícil, tenho que confessar).
Tudo bem, ganhei a tarefa e eis o texto.

Passa uma suave brisa na porta da casa.
Ela sente o cheiro do mar. Faz muito tempo que não o tem tão próximo. Resolve desligar o ar condicionado, abrir a janela, soltar-se dentro da camisola e dormir com o som roco e insistente do mar.

Acabou a ressaca, e a praia ainda está vazia. Depois que amanhece o dia, de manhã, o azul está diferente aos olhos dela: claro, real, palpável, permanente. Será que um dia vou pensar que o céu deveria ter outra cor?

O azul do mar está diferente: meus óculos escuros os deixavam com outra cor? Ela se perguntava...

Mas essa dùvida acidental não era agora motivo de angústia, de desordem ou conflito. Chega de debates comigo mesma. Agora, só tenho olhos para fora, pensou.

(e quando os olhos ficam para dentro? quando se fecham, cegam, se escondem?)

Não tinha nem preguiça nem vergonha. Só um pouco de miopia.

Resolveu que essa liberdade que tanto tinha custado aos olhos inchaços, horas extras em produzir colirio natural, e cansaço de olhar o mesmo rosto feio, apavorado no reflexo.

A pergunta do ano oito, para onde eu fui, se tornou, de repente a mesma resposta que é chave do nove. Para cá eu fui, cheguei aqui. E se antes me perdi, neste azul mais claro, neste céu mais real, agora me achei.

A liberdade dela, pensa, não é uma bandeira, camiseta, nem o poder de escolha ilimitado. Não, a liberdade é acordar, olhar nos seus próprios olhos e ver o azul deste mar, não na cor, mas na sensação de longos caminhos que ainda restam a trilhar.

Ela via, sim, que a vida ainda não havia parado, e que aceitar o horizonte, o seu limite, não significava ter de voar mais baixo.

De repente percebeu que sempre teve asas, mas como as de um papagaio doméstico semi-livre, elas estavam sempre cortadas. Ora, se as asas eram de sua natureza, o corte é que era bizarrice. Voltarei a deixar crescer quem eu sou. Quero minhas asas do tamanho que são para alcançar esse azul real, concreto, limpo, suave e envolvente.

Assim como me sinto e vejo agora> definitivamente não muito pronta para ser rainha de vida nenhuma, mas louca para ser dona de volta do meu nariz.

terça-feira, março 24

Nada de mais, espero por você

Quero te escrever, principalmente por que sei que não chegarás a ler.
Não me conheces, mas a verdade é que eu espero por você.

Vejo seu rosto de longe, ouço nossas conversas e espero por você.
Consigo viver neste mundo diferente, mesmo sem saber onde estás por que espero, sim, continuo esperando por você.

E faz diferença que você saiba disto?
E você vai compor de forma diferente por isso?

Não, sabemos que não.
E continuo quieta, para te ouvir, decorar e esperar a próxima canção.
Espero por você, por sua voz, naquelas notas.

Espero por você e enquanto isto, canto suas letras,
por dentro, de cor.

E quando chega a vez de te ouvir, ah, penso como seria ainda melhor
se te ouvisse ao vivo, vivo, comigo.

Espero.
A cada vez que me tocas, espero pela próxima.
Espero pelo replay. É o que sei que posso ter.