terça-feira, outubro 31

Ele me faz rir

Mas ele é horrível, o que você vê nele?, pergunta a amiga, incrédula.

Ele me faz rir. Eu fico olhando para ele e tenho só vontade de rir.

E elas falavam de um peixe, viu?

Veja o peixe telescópio aqui e o outro primo dele aqui

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Dados sobre eles:

Nome Científico: Carassius auratus
Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Família: Cyprinidae

Carassius auratus (Linnaeus, 1758) auratus.

Nome comum: peixinho-dourado

Descrição morfofisiológica:
O Carassius auratus é um peixe de água doce que tolera pH entre 6 e 8 e temperaturas entre 0 e 41° C. Sua coloração alaranjada é muito caracteristica. Chega a medir no máximo 59 cm de comprimento, podendo pesar no máximo de 3 kg. Sua cabeça é larga e triangular, e não apresenta escamas. O espaço entre os olhos é largo. Não apresenta barbilhos na mandíbula superior. Apresenta uma longa nadadeira dorsal com 15-21 raios, e uma espinha dura e serrilhada que tem origem nas nadadeiras dorsal e anal. A linha lateral é completa, apresentando entre 25 e 31 escamas em série lateral. Os machos são mais finos que as fêmeas. Sua população pode dobrar após 1,4 - 4,4 anos.


Reprodução:
Sexuada

Dieta:
Carnívoro (Uia!)
Detritívoro
Herbívoro

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Viram só, meu blog também é cultura :)

Peixiiinho...

Ela ganhou um peixinho novo.
Que alegria. Daqueles douradinhos.
Juntou com os outros amiguiulos aquáticos no aquário novo também.

Passou uma semana.
A água estava verde.
E a bela menina de cinco anos resolveu que tinha de limpar.

Apanhou o fofo (sabonete) e começou a esfregar com a esponja.
Limpou tudo direitinho, a água já estava bem melhor.
Voltou a ser translúcida.

Ela esqueceu de tirar os peixinhos de lá.

Os peixinhos nem curtiram o aquário limpo, só deu tempo de fazerem bolinhas de sabão.

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A mesma menina (ela não é a Fenícia) ganhou um pintinho.
Foi mostrar para a amiguinha:
Pegou-o com as duas mãos: olha como ele é fofinh--creck!
E o pintinho ganhou seu último abracinho.

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segunda-feira, outubro 30

Sonho de um filho

Eu, há uns anos, eu tive não uma vontade, mas uma idéia de um filho.

Eu me lembro que estava no Recife na praia de Boa Viagem. Acordei umas 11 horas com um tema de uma música na cabeça.

Fiquei ali no violão um tempo, daí desenvolvi o tema e fui procurar o Vinícius. A gente estava no mesmo hotel, fomos até lá para tocar num show.

Mostrei para ele: Vina escuta aqui um tema que eu estava pensando.
Quando ele ouviu, falou OBA! e me disse: vai para a praia, que quando você voltar talvez tenha uma idéia já pronta para te mostrar.

Aí eu fui, lá para umas quatro da tarde, voltei. Encontrei Vinícius em prantos, já com boa parte da letra pronta. E eu cantarolei assim, à primeira vista, e vi que da metade em diante ele tinha feito a música muito mais para ele...

[Quem contou essa foi Toquinho durante um show ao vivo no Rio -- no qual eu não estava na platéia porque tinha uns dois anos de idade]

Para quem não conhece a canção (linda na voz e violão dele), eis a letra:

É comum a gente sonhar, eu sei,
Quando vem o entardecer;
Pois, eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer.
Vejo um berço e nele eu me debruçar
com um pranto a mim correr
e assim chorando acalentar
o filho que eu quero ter.

Dorme, meu pequenininho
Dorme, que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem.

De repente eu o vejo se transformar
No menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim.
Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim.

Dorme, menino levado
Dorme, que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem.

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu,
[Sentir-lhe] a barba me roçar
No derradeiro beijo seu.
E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus,
[Ouvir-lhe] a voz a me embalar
Num acalanto de adeus.

Dorme, meu pai sem cuidado
Dorme, que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter.

sexta-feira, outubro 27

Vou de van - parte I

Não sei se há outra palavra que atraia historinhas como VAN em Bsb. Faça o teste entre seus colegas, conte algo com a palavra van e veja o resultado.
Cuidado, depois não me culpe:
Rende - no mínimo - meia hora de histórias tétricas e boas risadas...

Publico aqui uma coletânea, seja sobre a etiqueta ao andar de van, seja sobre episódios factuais, todas elas acontecem nesta cidade linda.
Se você tiver mais historinhas, é só acrescentar ;)
Entre e sente-se à vontade por aqui.

DÁ-TRÊ-SU até o final,
DÁ-TRÊ-SU até o final, DÁ-TRÊ-SU até o finaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal
Depois de Rodoviária-PátioBrasil, é o grito mais comum pelos vanboys- como vou chamar aqui os cobradores/abridores de porta/ anunciadores do percurso/ vigias anti-policiais e co-pilotos das vans. Não sei porque sempre se fala mais de uma vez, e muitas vezes bem bem rapidinho. Se o vanboy estiver ainda com voz ou animado, ele completa com a outra frase consagrada: lugar para sentaaar!

Uma vez, um vanboy falou tão mal W3 Sul que um velhinho perguntou:
O senhor vai para o P Sul?
E eu respondi: Não, ele quis dizer dábliu-três-sul mesmo.

Outra vez, estava a van lotada (ok, isso não é novidade) e o vanboy foi chamar: Rodoviária-W3Sul. E se empolgou, completou, não sei se por costume ou se porque ele viu que um monte de gente estava para descer no próximo ponto: tá vazia!
Todo o pessoal que estava dentro da van "vazia" caiu na gargalhada.

ARROCHA!
Mais uma palavra exclusiva de comunicação entre motorista e vanboys.
Significa= pode correr como um louco pois o ônibus tá perto ou pode fazer essa ultrapassagem para sair do ponto ou seguuuura peão.
Tenho medo do arrocha (acho que seria uma boa comunidade no Orkut, será que já existe?). Toda vez que eu escuto arrocha! tenho um frio na barriga, uma vontade de pular a janela misturada com uma reprimida vontade de rir.

Próximadesce
Na falta de cordinha, vai o berro.
Se você quiser descer, grite próximadesce e pronto.
O vanboy vai repetir o seu grito imediatamente depois, só para garantir que o motorista ouviu.


Eu não consigo falar próximadesce. Sou burguesa fresca, falo: moço, vou descer na próxima, tá? E o vanboy faz que sim com a cabeça e repete próximadesce. E toda vez eu penso: que imbecil eu sou, não adianta nada tentar falar frases completas.

Madame vai na frente
Incrível, recentemente descobri que a prática também é universal.
A etiqueta das vans diz que se a mulher estiver com cara-de-madame-- ou seja, escovinha, saia, bolsa e um saltinho-- ela vai na frente.

Muitas vezes o próprio vanboy te convida no ponto: moça, vai na frente tem lugar. Eu não tenho dúvida: melhor que ir abarrotada nos bancos de trás.

Seguuura!
Outro vocábulo de comunicação entre vanboy e motorista.
É usado quando alguém vem lá de longe e faz um gesto que quer entrar.
Em geral, o seguura acontece porque a van está de partida da parada de ônibus.

Então, é sempre acompanhada daquela arrastada de porta e da ginástica antiinércia executada pelo vanboy, que enquanto grita seguuura, vai abrindo a porta e se segurando para não cair para fora da van por causa da freiada.

Dá medo, mas o arrocha! é bem pior.

(Ainda não acabou, depois eu conto mais... as piores estão por vir! )

quinta-feira, outubro 26

Para ver essa banda passar

Era aniversário de uma pessoa muito querida. Sabe o dia que já começa com um ar especial? Na noite anterior à véspera deste dia haviam saído para comemorar, sem ser para comemorar, para conversar mesmo. Ela ainda tem esse papo -- e o capuccino delicioso -- na memória até hoje, mesmo alguns meses depois.

Talvez pelo assunto, pela pessoa, pelo dia, ela tivesse acordado num dia diferente. Talvez pelo cansaço do final do ano a menina, que queria saber tirar fotos com o piscar, estivesse ainda mais cansada.

Sem mais introduções, o encontro que causou esta historinha:
Ela chegou logo de manhã ao teatro. A banda ainda ensaiava. Crianças uniformizadas andavam para lá e para cá com seus instrumentos - seus troféus! - para lá e para cá. Para muitas, a primeira vez na "terra do presidente". Todas saíram, com a música em pastas pretas de folhas de plástico, de um bairro da cidadezinha de Tatuí (140km de SP).

O maestro, o pai-mestre, a esperava para a entrevista.
Ela simplesmente não sabia o que a esperava.

Mais que outra história bonita. Bonita. Com maiúscula.

Um dia, esse moço se levantou e decidiu que os quatro filhos que tinha em casa davam pouco trabalho, decidiu que as aulas no conservatório de música davam pouco trabalho. E foi procurar algo que desse mais trabalho.

Escolheu, com ajuda e aprovação da esposa, uma escola pública de um bairro carente da cidade de Tatuí. Passaram nas salas de aula, chamaram atenção para quem não gostaria de tocar um instrumento. Reuniram "sete ou oito molequinhos" e começaram.

Ele é trompetista e ela percussionista. Era 2002.

Aos poucos, foram os dois comprando mais instrumentos: trompas, trompetes, flautas doces, bumbos, pratos, trombones...

Mais e mais alunos a cada apresentação se juntavam. Quem quisesse participar tinha de garantir nota boa e bom comportamento na escola.

A banda começou a se apresentar em praça pública. Foi chamada para tocar em festas cíveis. Virou ícone da cidade. Não cabia mais no galpão, começou a ensaiar na rua - onde ensaiam até hoje. Veio a capoeira, veio a dança, tarol, saxofone... Chegaram os uniformes. Tudo pago com suor e sacolinha, a ritmo de knock-knock nas portas.

Passaram-se apenas quatro anos.
Agora são mais de 45 integrantes, dos 7 aos 14 anos.
E Mudaram a cultura de uma cidade. Viajaram para São Paulo, Rio, Porto Alegre, Brasília.
Hoje, a banda Lira Tatuí é bi-campeã nacional, bi-campeã sul-americana e foi eleita a 10ª melhor banda pela associação mundial de bandas.

...

Ela soube de tudo isso e mais, da boca do generoso homem que se gastou para fazer o projeto caminhar. Viu esse homem fraquejar ao falar das necessidades e dos sofrimentos, da fome que passam algumas das crianças, da miséria que ele sim conhecia bem melhor que ela.

No final da conversa, outras atividades, ela se dispersou. Toca o telefone, otros assuntos mil a resolver, pautas burocráticas que lhe empedrejam o coração.

Eis que entra, no final da manhã, a banda no palco. Sutil, com meninas doces, olhares de esperança, tocando trombones. Devagarinho, vão entrando os outros, dançando, tocando. O ritmo vai esquentando, a platéia fica quase incrédula.

Então, ela estremece. Não consegue mais fazer as fotos. E não se reconhece (!) nesta reação inesperada. Senta no chão, espera passar, a mão vai parar de tremer. E pára.

Mas dos olhos lhe caem lágrimas.
No pensamento, a preocupação: calma, preciso das fotos!

Asa Branca. A Banda. Uma atrás da outra, as músicas lhe falavam mais.
Ela olha aquelas crianças outra vez, os trechos da entrevistas pilotam seus pensamentos.
Ela chora feito menininha, emocionada de uma forma profunda.

A música ainda vai salvar nosso Brasil, conclui silenciosamente.
Essa arte - a beleza - nos salva.

E quem foi que falou que pobres essas crianças são?
São mais ricas que eu, pensou.

...

Ela sabia que o dia era especial. Se pudesse amarrar toda essa esperança e dar de presente àquela pessoa tão querida, tão amiga, tão especial... Ah, seria o presente ideal!

(Mas nem a foto faria isso possível, ah, disso ela bem sabia.)


quinta-feira, outubro 19

Salvem os cachorros!

[Outra historinha cross-culture...]

Ela não se conformava. Como os chineses tinham o sangue frio de comer cachorro? Sim, para quem (como eu) não sabia, carne canina é uma especiaria na China. Há vários tipos de cachorros, para churrasquinhos, assados, grelhados em diferentes ocasiões.

Naquele dia, ela acordou decidida. Não se pode salvar todos, mas pelo menos um. Pelo menos um. Lá foi ela, na feira, chegou contente pela primeira vez.

Diante dos bichinhos barulhentos, de pelo cinza claro, curto e bem pequeninos, ela parou um instante. Quem seria o felizardo? Quem teria sua salvação comprada a dólares?

Difícil escolha. Então, quase desistia, quando um fortinho olhava para ela. Mais gorduchinho - talvez com pouca auto-estima -- olha para ela quase que conscientemente. The ONE.

A música celestial começa a tocar no coração dela, que bate mais forte ao se aproximar da vendedora, uma senhora com rugas de sol, chapéu na cabeça.

E a sinfonia durou uns 15 segundos.

Ela pediu: quero aquele dali.

A moça de chapéu apontou: este?

Ao mesmo tempo que ela fazia que sim com a cabeça, com aspecto redentor, a moça num gesto rápido, pegou o cachorrinho, torceu o pescoço de uma vez e crack!

Prontinho, aqui está. Ótima escolha, vai ficar delicioso.

Ela olhou incrédula, estática. Mas não teve coragem de pegar o cão. Virou as costas e saiu.



[Outra contada por Fatinha, em terceira pessoa.]

quarta-feira, outubro 18

Formaturas; sim, nos trajes de preto com faixas coloridas

Me formei.
E no período de formatura, sempre surgem muitas outras, várias, que só facilitam que as maravilhosas frases prontas do tipo "completamos mais uma fase da vida" venham à tona em chorus.

Bom, a historinha que quebra o regime de meses do blog não é a da boca no trombone, mas vamos lá.

Estava na colação de grau de uma amiga. Fui sozinha, naquele esquema: chegando atrasada para ouvir menos chatices iguais de sempre antes do momento de gritar louca e triunfamente o nome da felizarda que me levara até ali.

Sou da comunidade Eu Ouço a Conversa Alheia do Orkut. Infelizmente é um hábito que não tiro... E quando estou só, a conversa dos outros, livre de direitos autorais, vira minha rapidamente.

Ouço os gritos daquela que parece ser a pop star da noite:

CAMILAAAAAA --- UOU!


Já repararam que sempre tem uma sirigaitinha que leva a maior torcida*?
Torcida* de formatura = pessoas vestidas com camisetas no nome dela, balões têm a face dela estampada, pompons, muitos pompons coloridos nas mãos da tia, da vó, da irmãzinha(...), papéis prateados recortadinhos jorram no ar quando o nome dela é pronunciado, fora os apitos, cornetas matracas e tudo o que possa fazer barulho, claro.

Nem me dou o trabalho de olhar para trás, só lamento o lugar que escolhi, logo perto das cheerleaders da popstar. No meio da gritaria, ouço de repente uma voz, meio sem graça, comentar dubiamente:

Gente, acho que não é essa a Camila não.

Parece que a tecla MUTE foi ligada. Um silêncio mortal se instalou e todos rapidamente se sentaram. Eu quase me explodi por segurar o riso.

Depois veio a popstar Camila, a versão verdadeira. Detalhe: ela é loira. A outra, morena.

Muita emoção confunde, é a moral da historinha. Cuidado, não vá estourar os balões à toa.