sexta-feira, maio 25

quinta-feira, maio 24

:: Sexta, 11 de maio, Campo de Marte ::

Foi a madrugada mais fria da minha vida. Pensei seriamente o que não significaria ser mendingo.

Chegamos no hotel em SP, depois do Pacaembu, umas 11h.
Ainda estava eufórica com todas aquelas palavras do Papa, com o fato de voltar a escrever para o jornal, de enviar a matéria no mesmo dia, para sair no jornal no dia seguinte.
Isso sim é jornalismo!

Muito cansada. E ainda muita coisa pela frente... Nosso hotel era uma torre de babel. Lotada de jovens: do Peru, da Argentina, do Brasil. Vieram todos ver o Papa, enfrentando, por vezes 36 horas de ônibus! Tomei banho e fui dormir, quer dizer, cochilar. Levantos às 2h da madrugada para sair para o Campo de Marte.

Todas estávamos no ônibus (corpo presente) às 2h40. Saímos. Como nosso ônibus ficou num bolsão, tivemos de caminhar (uns 3-4km) até o Campo de marte. Sinceramente, encarei a caminhada como penitência, pois carregavávamos todas muito peso, entre sacos de dormir, lanches, cobertores, lanternas e outras coisitas.

Chegamos e... rolava um show carismático. Nada contra, mas quando você está cansada e quer dormir (principalmente se está ao relento), qualquer barulho é chato. Percorri o local, procurando não tropeçar nas pessoas que estavam deitadas no chão. Falei com algumas pessoas, todos vindos de longe.

Uma senhorinha de S. José, que veio para ajudar na distribuição da eucaristia (hóstias) ao povo durante a Missa, com 73 anos me chamou a atenção. Ela havia chegado às 4h45 da manhã! E toda animada, apesar do frio :) Como estava congelando, resolvi deitar um pouco.

Levantei com um nascer do sol muito bonito.

E continuei a procurar personagens de Brasilia. ;/ O tempo foi passando e a temperatura aumentando... Um dia claro, limpo, sol quente se preparava. Foi quando vi um grupo com camisetas do Frei Galvão. Pensei, vou falar com eles! E quando perguntei de onde vinham: Brasília, Lago Norte, da paróquia Nossa Senhora do Lago.

Quando me contaram que é a paróquia que possui relíquias de Frei Galvão em seu altar e que nesta paróquia há distribuição das pílulas do novo santo, eu quase não acreditei! Depois, me contaram que a Globo fez matéria lá na paróquia. E pensar que a sorte me fez pautar a Globo hehehe (sorte, não, foi favor de Frei Galvão, como diria o Gustavo Werneck do Estado de Minas).
Quando chegou o Papa, de papamóvel, a comoção da multidão! A Missa foi belíssima, a ladainha dos santos, os cânticos, tudo muito bonito. Foi terminando a celebração e minha preocupação se aumentou: como vou encontrar minha equipe? Neste dia, só conseguimos três passes para ficar na parte reservada à imprensa, então , tive de ficar no meio do pessoal (o que sinceramente gostei pois pude assistir à Missa com calma). Sabia que tinha que me encontrar com eles para ir para a sala de imprensa no Anhembi . Caso contrário, sei lá como conseguiria passar a minha matéria para o João (editor de Mundo do Correio Braziliense) antes de viajar para Aparecida.

Saí correndo, com malas e cuias mesmo, entre a multidão de mais de 1 milhão de pessoas. E, como estava no lado direito do palco e a imprensa para o lado esquerdo, tive de entrar novamente no lado esquerdo (o que significou "nadar contra a maré").

Chegando em frente ao "curral", os soldadinhos não queriam me deixar passar. Quase chorei, fiz o drama, implorei e daí consegui a autorização.

-- Vira de costas.
-- Como assim, moço?
-- Como é que você acha que vai passar por esta grade? (era alta demais mesmo)
-- Mas, moço, eu sou pesada mesmo, não tem como dar a volta?
-- Vira de costas que eu te ergo.

Não tive opção. O soldado me segurou por debaixo dos braços e puxou para cima pelas axilas. Que sensação "linda". Mas foi rápido, graças!

Chegando no espaço da imprensa, não vejo ninguém. Socorro!
Daí, vi a Silvinha. Santa Silvinha, só me aparece nos momentos de aperto! Obrigada, viu?
Consegui usar o celular dela para falar com o João. Mas nada de ver o pessoal da equipe até que...

-- Ei, você não é o Gilberto, do Estado de Minas?
-- Não eu sou o Gustavo, e você, que atriz americana é? (risadas)
[depois, tiraram com a minha cara todos os dias por causa do meu chapéu de palha havaiano que eu usava]

Que sorte! Não só peguei carona de volta, como tirei fotos de personagens-chave para as matérias do Gustavo (como a postuladora da causa do Frei Galvão e a menina que foi curada, milagre da beatificação, vejam abaixo).

Depois, sem almoçar, voltamos à sala de imprensa, onde ficamos até seguirmos para Aparecida... Bati duas matérias, comi um sandubinha e seguimos em frente.

Que alegria de retornar à Aparecida! Sabia que o melhor da viagem estava por vir :)

terça-feira, maio 22

:: Palavras do Papa no Brasil ::


"O mundo precisa de vidas limpas, de almas claras, de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer. É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento". [no Campo de Marte]


***

"Podeis ser protagonistas de uma sociedade nova se procurais pôr em prática uma vivência real inspirada nos valores morais universais, mas também um empenho pessoal de formação humana e espiritual de vital importância. Um homem ou uma mulher despreparados para os desafios reais de uma correta interpretação da vida cristã do seu meio ambiente será presa fácil a todos os assaltos do materialismo e do laicismo, sempre mais atuantes em todos os níveis."
[Aos jovens, no Pacaembu]


***
"Diante dos olhos, meus queridos jovens, tendes uma vida que desejamos seja longa; mas é uma só, é única: não a deixeis passar em vão, não a desperdiceis. Vivei com entusiasmo, com alegria, mas, sobretudo, com senso de responsabilidade. (...)

Meu apelo de hoje, a vós jovens, que viestes a este encontro, é que não desperdiceis vossa juventude. Não tenteis fugir dela. Vivei-a intensamente. Consagrai-a aos elevados ideais da fé e da solidariedade humana. (...)

Vós, jovens, não sois apenas o futuro da Igreja e da humanidade, como uma espécie de fuga do presente. Pelo contrário: vós sois o presente jovem da Igreja e da humanidade. Sois seu rosto jovem. A Igreja precisa de vós, como jovens, para manifestar ao mundo o rosto de Jesus Cristo, que se desenha na comunidade cristã. Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada."
[Aos jovens, no Pacaembu]

quinta-feira, maio 17

Exclusiva com Arruda (original sem cortes)

Ele chegou sorrateiramente, mas compenetrado. Foi assim que o governador do Distrito Federal apareceu, quase em cima da hora (eram mais de 17h15) no estádio Pacaembu para assistir ao encontro com o papa nas cadeiras reservadas às autoridades. "Não avisei que vinha, mas fui convidado pessoalmente pelo núncio, não podia deixar de comparecer," contou em entrevista exclusiva ao Correio no próprio estádio. O governador, muito emocionado, não mediu as palavras e falou abertamente sobre a sua fé, sobre a necessidade da educação espiritual na família, sobre a fé do povo brasiliense, além de temas como aborto e células-tronco. Confira.

Visita do Papa
Eu vim para cá por dois motivos. Como católico que sou e como governante. Vejo minha presença aqui como representante daqueles brasilienses que não puderam vir. Creio que é parte da minha responsabilidade como governador. Em 92, eu vi o Papa JP II e foi magnífico. Ajudei a construir o altar que depois virou a base da Catedral Rainha da Paz.

Sou Católico. Não escondo isto. Fui seminarista. Vou à Missa todos os domingos. Gosto de ir ao mosteiro de S. Bento, me faz bem. Vou para refletir, para fazer a minha oração. Peço sempre que Deus me ajude a governar, a tomar decisões, a ser humilde.

Fé em Brasilia
Brasília é uma cidade que tem um bom relacionamento entre as pessoas em geral. Eu vejo que Brasília é uma cidade de fé. Não foi à toa que o S. João Bosco sonhou com Brasília. É uma benção e uma responsabilidade ser governador desta cidade.Um privilégio muito grande.

Aborto
Me posiciono contra o aborto. Sou a favor da vida, estou do lado da Igreja. Mas ao mesmo tempo, tenho esta posição porque considero que alguns países que permitiram o aborto sofreram depois, pois uma vez permitido, os casos de aborto foram além daqueles de má-formação. Ou seja, abriu precedente para que a criação da vida não fosse mais respeitada.

Células-tronco
Ainda não me considero totalmente informado para me posicionar. Mas acho que devemos estudar mais o caso, sim.

Sobre o tema do discurso do Papa no Pacaembu
Eu tenho um filho adotivo que agora está no seminário, sabia? O adotei quando tinha uns10 anos, ele morava no Paranoá e perdeu os pais. A historia é longa... Cham-se Marcelo Vicente, tem 22 anos. Estava cursando Engenharia e largou para entrar no seminário.
Quando ele me contou, fiquei preocupado, mas estou contente, agora, ele realmente tem vocação.

Familia (sobre o que falou Lula sobre a importância da familia)
É a base da sociedade. Uma pena é que a falta de educação e de conceitos acaba gerando uma destruturalização na vida das pessoas. Quando a família não passa valores espirituais, que há um motivo pra a vida que é ininteligível, maior que nós, que é divino, isso deixa uma lacuna muito grande.

:: Quinta-feira, 10 de maio :: Parte II

Na sala de imprensa do Anhembi, um mimo: máquinas de café expresso da Nestlè. Ubi jornalistas, ibi café!

Internet Wi-Fi, sandubas, mesas redondas, cubículos para escrever com o laptop, computadores com internet banda larga, televisão, e eita, essa é a Ilze Scamparini (!).

Depois da confusão dos passes, fomos de carro do Estado de Minas para o Pacaembu. Fiquei na dúvida se levava ou não o laptop. Algo me dizia, leva, just in case. E lá fomos nós!

Chegamos e não pudemos estacionar muito perto. Na hora de descer do carro, ainda perguntei ao Rodrigo: Você acha que eu levo o computador? (estava numa mochila) Ele hesitou. Não sei, de repente é mais seguro ficar no carro.

Pensei, se ficar aqui, na saída terei de me encontrar com o motorista para depois ir caçar o ônibus do meu grupo, no meio da multidão... Não ia dar certo. Novamente a voz me dizia: leva, você trouxe até aqui, tá disfarçado na mochila.

Resolvi encarar o peso e o risco.

Lá fomos. Falamos com vários jovens ao redor do Pacaembu. Estrangeiros, brasileiros da Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Distrito Federal. Perguntas para o povo fala, sobre aborto, células tronco e o ficar. Sobre o aborto, todos unânimes: "sou a favor da vida". E cada um fundamentava sua resposta de uma forma, nem sempre religiosa.

Foi marcante ver jovens de todos os lugares do país responder em uníssono contra o aborto. E falamos com mais de dez pessoas!

Arruda
Mas ainda mais marcante foi a sorte que tive de entrevistar exclusivavemente o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Foi assim: saí do "curral" (lugar onde ficam 'ilhados' os jornalistas) para pegar emprestado um cabo USB para descarregar as fotos da minha máquina no computador, para enviar ao jornal e... dei de cara com o Arruda. Ele estava descendo o lance de escadas e venci minha antipatia pessoal, encarei o homem e falei: muito prazer, governador, sou Fernanda Velloso, repórter do Correio Braziliense.

Ele me olhou completamente surpreso (parecia meio amortecido pela ocasião) e disse: Como vocês me descobriram aqui? Não contei a ninguém que vinha !

Eu, naquela hora pensei, é a minha chance, não saio do pé deste homem. Fui com a comitiva até a região do estádio que estava reservada à autoridades (que ficava logo abaixo ao local reservado aos jornalistas). Sentei-me ao lado dele e conversamos por uns 25- 30min, eu acho. Sinceramente, eu não acredito até agora na naturalidade que encarei essa entrevista, tirando o fato que eu pensava o tempo todo, meu Deus, e o que eu vou perguntar para este senhor? Ele estava muito à vontade, contou coisas muito pessoais. Depois eu vi que no Correio publicaram apenas algumas linhas do que eu havia enviado. Mas a minha foto também entrou!


"Países que legalizaram o aborto depois tiveram um problema grave: foram feitos abortos menos nos casos de risco de vida da mãe ou estupro que nos casos de 'gravidez indesejada'. Ou seja, abriram precedente."

(Vou postar toda a entrevista, o Correio publicou apenas uma parcela).

Wi-Fi
Ao chegar no espaço reservado à imprensa, vi que todo o mundo (reuters, nyt, el país,...) além de presente por meio de seus correspondentes, estava com seu computador no colo. Liguei o meu e... surpresa: Wi-Fi conected! Gritei ao Rodrigo: Eita, temos internet aqui! Demais, vamos mandar as matérias direto daqui mesmo. Foi o que nos salvou pois o evento terminou mais de 21h !!! (horário de fechamento do jornal). E olha que eu quase deixei o computador no carro, hein? Outra vez, agradeci a providência divina !

terça-feira, maio 15

Dias extraordinários:: Quarta e Quinta-feira, 9 e 10 de maio::

[ Vou contar, por capítulos, minha viagem de cobertura pela Visita do Papa ao Brasil ]

Nosso ônibus quase me deixou para trás. Terminei de arrumar a mala às 19h45. De repente, noto o silêncio em casa. Cadê todo mundo?, me apavorei. Mesmo!

Depois de resolvido, tentava pensar o que teria deixado para trás... Computador, máquina digital, celular, carregadores, pilhas recarregáveis, máquina analógica, filmes, dinheiro, pijama, travesseiro, identidade, ufa! Acho que embalei tudo.

Saímos. Cansada, capotei no ônibus, mal vi o filme que passava (O homem que se tornou Papa - JP II).

Assim que chegamos, encontrei Silvinha na Missa que assistimos. Eu não sabia que a veria ali. Silvinha é minha amiga de SP, jornalista. Algumas horas antes teria me avisado que além da credencial, seria necessário também um passe para entrar em cada evento. Aproveitei que ela estava ali, fui de carona até o Anhembi pegar minha credencial e me encontrar com o resto da equipe.

Lá conheci uma jornalista americana da CBS. Ela mora em Washington. Primeira vez no Brasil. Me contou que havia jantado na noite anterior na casa de uma brasileira que conhecera fazendo reportagem aqui. Estava admirada: com a nossa bagunça e com nossa hospitalidade.

Chegou a hora de pegar o passe. Vejo que meu colega de faculdade, agora trabalhando na Folha, fala ao celular chateado que não conseguiu. Pensei, não é possível. E nós? Vamos ficar de fora?

No final da fila de jornalistas e fotógrafos e cinegrafistas, um rapaz distribuía os passes. De cima de um palquinho, afirmava que a medida era para evitar aglomeração desnecessária de jornalistas. Vai entender.

A jornalista norte-americana, da TV, só conseguiu 01 passe. Ela me olhou desconsolada: como vou levar toda minha equipe num só passe? Minha mão segurava 04 passes, dois para o Correio Braziliense, dois para o Estado de Minas. Pensei: será que vamos todos? Disse a ela que perguntaria se usaríamos todos os cartões e daria o excedente para ela.

Rodrigo disse que sim, iríamos todos. Quando voltei para a sala de entrega do passe, vi um bolo de jornalistas ao pé do palquinho, implorando, aos gritos por mais passes. Me fez lembrar minha infância, quando a gente ia nas casas pegar saquinhos de S. Cosme e S. Damião, aquele bolo de crianças com a mão estendida tentando chamar a atenção para ganhar o doce.

Na mesma hora corri e gritei ao moço que distribuía os passes que sobraram: A americana! Ela não fala português, veio com a TV CBS e só conseguiu um passe! Rapidamente o cara perguntou, cadê? E eu gritei: Kim, raise your hand!! E ele deu os últimos dois passes para ela. Thank you, Fernanda.

E pensei: Quê isso! Me leva de volta aos EUA e tá tudo pago ;D