segunda-feira, junho 29

As contas e os tiros

Pensava ela nas inúmeras contas ainda a pagar, acertos a fazer e naquela lista de objetos necessários e outros desejáveis que a impaciência não a fazia querer esperar por ter.

Sem nenhum outro problema grave, com o café da manhã gostoso e o maiô no corpo, saiu para cair na água, como habitualmente começa os dias em que a preguiça não toma conta do acordar.

Saiu da água depois dos 1300m percorridos - nem rendeu tanto a aula de hoje. E voltam as contas e os pepinos cotidianos (pé da cama descolou, transformador de voltagem para o microondas é urgente)a retirar seus pensamentos.

Ali, no vestiário, o encontro habitual que muda a perspectiva da semana. Lá vem ela, meio cabisbaixa, a faxineira a conversar. Ela gostava de bater papo com a moça, que tão zelosa cuidava dos alunos quase como extensão da família e arrumava com gosto o lugar sempre meio empoçado...

--- Meu marido morreu. Tomou dois tiros. Faz vinte dias. Agora, estou parcelando o custo do enterro em 36 vezes.

A notícia toda a chocou. Pensou tanto.

Mas quanta injustiça para quem trabalha tanto. Para quem acorda às 4h30. E chega em casa depois das 19h. E demora mais de duas horas por dia dentro de um ônibus. E ganha menos que os 10% do gasto do enterro, que teve de dar como entrada, assumindo outra dívida.

Ela, calada, resolveu que dali por diante não ia mais reclamar de contas.

E, de algum jeito, iria ajudar a faxineira com alguma daquelas prestações.