terça-feira, abril 21

café da manhã

A cafeteira ainda sorve goles de água e o cheiro de café começa a enfeitiçar o apartamento dela. Não a comove. Senta à beira do sofá, não liga nenhum outro aparelho. E esquece.

Esquece que dia é hoje.
Esquece qual era mesmo a programação que faria...
Trabalho? Feriado?

Agora o convite da cafeteira é quase um insulto: --- Acabei, pronto, levante-se.

Ela olha e pensa. Só tem um pensamento.
Quer dizer, vários combinados, mais saborosos que o café quentinho que a chama por consumí-lo.

As cenas se misturam entre as vividas, as esperadas, as contempladas e, claro, as palavras, escritas e agora, que diferença, ditas.

O tema não fica velho, não esfria, não, isso não é notícia.
E, por acaso, neste caso, ela se importa?

A xícara está cheia. A cama, desarrumada, tal como seus cabelos.
Ela ve a cena e sorri. Não tem do quê. Mas sorri. E precisa ter por quê?

Ao contrário do clichê, ainda bem!, ela não se perde em melancolia ou falsas saudades do que passou. E adianta? As lembranças ainda vivem com ela, a história fica mais real, embora, agora, continue a viver apenas dentro dela, silenciosamente.

Claro que várias perguntas ainda tremulam e a dispersam. Como foi que ele chegou? Qual a verdadeira impressão que ficou nele? Quanto está a pensar em tudo? Quando o vejo outra vez?

Mas não é um interrogatório tenso, aflito, ansioso. Ela se espanta com isso, ainda que seja bom. Não precisa ser tenso, nem ansioso. Não.

Fica mais bonito a cada dia.
Com toda a espera que isso significa.

E ela está aprendendo que o tempo deixa a espera valiosa, que o tempo cultiva os melhores momentos, na época certa. Sem, claro, deixar de surpreender, de vez em quando.

O café ficou uma delícia.
Não seria ruim mesmo se pudesse dividir mais esse sabor... (e o insistente pensamento, ah, vai não é ruim, volta a tirar suas idéias do lugar).

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