segunda-feira, julho 14

incubadora

Somavam-se umas 72 horas de maratona.
Os dois estavam abatidos. Iam no terceiro carro do metrô das 17h45.

Não havia bancos, nem espaço para segurar. E por dentro, Julia amargava a novidade. Depois da Sé, consegue sentar. Suspira. O marido não vê mais ninguém na frente, só ela. Embora não tenha o que dizer, e bem que não queira, acompanha a dor silenciosa dela, como se a pudesse recolher um pedaço desse mal estar com os olhos.

Julia não queria estar ali. Reflete, se retorce.

Não consegue voltar os olhar ao marido. Perde a vista no pacote, grande, de roupinhas cor de rosa bebê compradas na 25 de março. O sacolejo do metrô embala os pensamentos dela. O aperto de gente atrapalha e segura as lágrimas dela. Burburinho de pés, portas e sacolas invade o deslocamento dela.

Pobre. Como se sente pobre.

Ao desembarcar, ele pega as sacolas dela. E num breve alívio, Julia se permite chorar. Muito. Aproveita as mãos ocupadas do marido e chora longe do abraço dele. Aperta o passo. Sai na sua frente.

Ele entende o recado. Espera e caminha sem a perder de vista.

Não queria sair do hospital, não queria voltar para casa sem o filho. Não quer entrar no quarto dele, perfumado, pronto para a chegada. Não. Por que?

Na entrada da casa, pequena, no alto da rua, Julia pára e observa o carro estacionado. O marido a alcança. Também se desconcerta. Reconhece a placa, sabe que são os pais dela.

Julia olha para trás. Arranca a chave da bolsa. As mãos tremem.

No sofá, espera a mãe. O pai, agora avô, vem trazendo o café. Ela sorri. Não esboça alívio. Mas lembra da cara amassada pelos soluços e sacolejos da viagem. Ajeita o cabelo, espera o abraço da mãe.

Minha filha, Henrique já vem.
A casa dele é aqui.

Ela esquece de se controlar ...
Olhos transbordantes agradecem a mãe. Mas ela só queria o primeiro filho, agora, em seus braços.

Nenhum comentário: