segunda-feira, fevereiro 7

Vá, eu quero ficar

Ouço sua voz que me parece descanso, mas ela me traz o passado. Ela me promete nada, apenas o instantâneo. E isto não é o suficiente mais. Ela antecipa e prepara o encontro com doses homeopáticas de carinho. Ralo, ainda que você o veja real.

Meu coração, que decidiu, por um tempo indeterminado, tirar greve de todo o resto do ser, é o único, em mim, que insiste em ver alguma veracidade em sua voz. Ela fala, apenas. E pouco. Mas é impalpável e distante.

Então, o tonto coração se prepara todo e arruma o resto do corpo a te receber. A voz traz o atraente abraço, o quente sorriso, a companhia confortável. E se alguma vez houve meio termo nisto, lhe traz de volta. Não é mentira. Nem verdade. E o prazer do encontro é cortado pela noção do efêmero. Minha razão e todo o consentimento me dizem simplesmente que estou sendo sugada.

Sabe quando você abastece? Você sai cheio, e eu fico vazia. O processo é simples assim. Nem você, conscientemente, me quer fazer este dano, mas nem eu quero me deixar inteira. Por que o estúpido coração resolveu se deslocar do sistema. E você aparece com o que tem e me carrega com o que trouxe: doença, consultas, provas, medos. Não me pergunta sobre os meus dilemas, segue em frente, descarrega e o meu coração se farta em acomodar tudo teu, lá dentro.

Mas eu volto. Não consigo depois andar de tão pesada. Me esforço, vem não a raiva, mas a tristeza. E eu que me meti nessa, agora vou tirar.

Nem me venha, como um vampiro, me sugar as energias, me pedir atenção, me querer perto como um amparo, descanso, companhia para depois nem me ver ao dar bom dia.

Não
quero algo etéreo, esfumaçado, sem nome ou com poucas palavras.
Não quero uma voz que não tem firmeza para a verdade.
Nem me venha me colocar no seu jogo, na sua viagem.
Enquanto você voa, eu vou ficar com os pés no chão.

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