quinta-feira, fevereiro 3

maquiagem e causalidade

Depois daquela faxina para deixar o armário habitável, onde forão descobertos perfumes não usados e guardados; esmaltes; estojos de sombras esquecidos; óculos de natação que tinha dado por perdido, a conclusão foi inevitável: por que deixei de sair de casa maquiada?

Adepta ao estilo "é bom estar sempre bem", sair com máscara nos olhos e batom nos lábios era, no mínimo, a sensação: pode vir, estou preparada. Ou quase (rs). Com a maquiagem esquecida ou guardada, veio a evidência do descaso.

Tudo isso para dizer que vale a pena.

Resolveu que acordaria com mais tempo de antecedência do horário habitual, para ter tempo para si. E acordar. E tomar um bom café, com direito a ler, quem sabe, uma ou duas páginas da Bíblia antes de sair de casa. E o fez. Na segunda-feira. Escolhe o vestido e sai, desta vez, depois de meses, preparada. Chega ao trabalho pontualmente, coisa rara. E ri para si mesma da liberdade que sentiu ao se arrumar só para se sentir melhor. Sem precisar de nada nem ninguém a mais como estímulo ao batom.

Chega a hora do almoço, encara o calor de 30 graus na cidade seca para encontrar a amiga. Depois de comprar a redinha para o cabelo (ela voltara ao ballet), vai tirar o carro da vaga. E espera o carro vermelho passar. Espera! Ei, espera! E não é o Márcio dirigindo????

Ui.
Ela nem se abala. (Ou quase). Olha diretamente para ele como quem quisesse dizer o de dentro. Sorri de lado e espera que ele a veja. O carro passa rápido, mas aquele olhar, ela sabe, não passa desapercebido. E... ele tira a mão do lado de fora do carro! Sem querer, mas querendo, sai moça da vaga, decide alterar o percurso, e pára, no sinal, bem ao lado do carro dele.

Espera. O sinal fecha. Ele abre a janela da direita.
Ela se vira, põe a mão na janela, encosta a cabeça, e escuta "como vai, moça bonita?"
Ela ri e pensa, tira a mão do cabelo, tira a mão do cabelo!, não precisa dar na cara. Responde e a conversa flui. E ele naquele carro vermelho. Não precisa sentar lá dentro para sentir o cheiro. Do outro lado, o rapaz se deleita. Tenta disfarçar, mas não cola.

Logo, a luz verde indica o fim do encontro improvável e inesperado.
Ele se despede, um beijo. E ela, louca, responde, vários, antes de engatar a primeira.

Viu só como o lápis, rímel e batom valem a pena?, ela ri e pensa, nem reclamarei na hora de tirar, de noite. A maquiagem. E algo mais.

Nenhum comentário: