terça-feira, agosto 9

Corpo, água, alma

Só sabia que precisava, de novo, voltar a fazer algum exercício.
Cansada de tantas horas de aula, livros e fórmulas, procurava algo que me aliviasse a rotina e, ao mesmo tempo, me voltasse a mexer os músculos.
E num dia que mal lembro, vi que meu cursinho havia fechado um convênio com uma empresa de natação, ali ao lado. Resolvido. Fui no dia seguinte ver como seria.
Um tempo depois já tinha óculos, maiô e matrícula. Na primeira aula, me descobri a única aluna do horário de meio-dia.
Para quem não sabia nadar, foi um privilégio. Meu professor, cujo nome era quase tubarão (charlton, que me lembrava shark), passou a nadar também, ao meu lado, com o fim de me ensinar a me mexer em ritmo menos acelerado, sem ansiedade de chegar à borda.
Aprendi que para nadar tem que haver uma entrega à água.
Não lembro por quanto tempo tive "aulas particulares", mas passaram uns meses e novos alunos chegaram. E nessa mesma medida de tempo, meu corpo foi respondendo aos gestos. Condicionava os movimentos e organizava seus músculos. Lembro o estado de espírito com que saía daquela piscina até hoje.
Em menos de um ano, nadava os quatro estilos e me preparava para competir. Não só emagreci, mas mudei por dentro. Como a piscina era aberta, ainda tive o privilégio de estar bronzeada em pleno inverno. Decidi cortar o cabelo, mudei a armação dos óculos. Vinha de dentro para fora e de fora para dentro a mudança. Ali, certamente, aos 18 anos, comecei a me sentir bem comigo mesma.
Me lembro de um professor do cursinho que se espantou ao me ver, depois de voltar de férias: ---E o que foi que aconteceu com você? Se apaixonou?
Talvez. Por mim, pensei. Antes tarde que nunca.

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