quinta-feira, junho 8

21 Trombones e 1 novo amor

Já eram mais de nove da noite e o Flávio tocava o interfone. Vambora! O show começa daqui a 30 minutos. Show? Ãhn?

Não tinha planejado ir ao Clube do Choro. Flávio subiu e me disse que não sairia até que eu me arrumasse. Mas, Flávio, você tá solteiro agora, se eu for com você, ninguém vai te dar bola. Não adiantou. Ele insistia com todos os argumentos: você não pode perder o trombonista que vai tocar hoje, o cara é sensacional. Eu fui.

Ao entrar, meus olhos se cruzaram com os dele. De primeira. Uma vez de sopetão e depois várias consentidas. Quando ele começou a tocar - nossa! - adorei, não precisava mais disfarçar que olhava para ele.

No intervalo, ele se aproximou para cumprimentar o Flávio. E fomos apresentados. Minhas pernas já cambaleavam.

***

Não podia deixar passar mais de uma semana, senão a coisa perdia o encanto. Me admirei da artista plástica - tão branquinha e de sorriso maroto - gostar de jazz e música erudita daquele jeito.

Tinha que dar um jeito de nos vermos de novo, pensava. Como os discos em vinil já eram rarirade e ela tinha comentou que colecionava uns clássicos do jazz, aproveitei a deixa para nos encontrarmos.

Fui até a casa dela. E, claro, era parte da promessa, levei meus vinis favoritos: Chat Baker, Anturo Sandoval, JJ Johnson, Ivan Lins, Sérgio Mendes & Bossa Rio e os 21 Trombones de Urbie Green.

Ela tinha todos menos o último. Ainda bem, alguma novidade eu levei. Me surpreendi que tivesse gosto para música parecido com o meu. E completou: eu gosto de ouvir enquanto pinto os meus quadros.

Esse foi o golpe final. Não tinha mais volta, pensei. Aliás tinha sim: ela me pediu os 21 trombones emprestado e eu, depois, em troco, ganhei um novo amor.

[O casal que me contou essa historinha está junto até hoje, já se foram nove anos]

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