quarta-feira, abril 29

ele é o cara

Outro diálogo infalível de risadas gostosas no final.

-- Mãe, você gosta de mim?
-- Muito.

-- E eu não gosto de você. Eu AMO você.
(suspiros de mãe coruja derretida).
-- Eu também te amo, meu filho.

-- Ah, então você me dá de presente mais gogo's?

Gente, esse é o Tomé. O rapazito de 5 anos que me enfeitiçou. Que joga bola comigo e depois ainda põe band-aid rosa no meu pé para sarar a bolha de sangue que formou. E eu digo para a amiga querida, mãe dele: -- Mas dá vontade te ter um filho amanhã. Ela ri e diz: -- Não vou negar; é gostoso mesmo, ainda com as horas de sono perdidas...

[Se a mãe deixar, prometo que posto a foto, aqui, em breve]

[Enquanto isso, contentem-se com o blog dela, delicioso

segunda-feira, abril 27

ternura pura

A mãe, mega profissional, super-ocupada e ao mesmo tempo superquerida, não deixa de ligar para o filho quando o expediente aperta e perde a hora de buscá-lo na escola.

-- Meu filho, você tá com a garganta doendo, ainda?
-- Não

-- E a cabeça? Vc tá quente, de febre?
-- Não, mãe.

-- E o coração? Tá batendo forte pela mamãe?
-- Eu te amo.

domingo, abril 26

como uma fatia de bolo

Ela estaciona o carro desnecessariamente distante do mercado.
Desce no meio da chuva fina com sacola e lista de compras nas mãos. Não se importa, precisa respirar aquele ar de grama molhada e pensar um pouco.

Começa a espera, que vai se renovar a cada despedida. Ela sabe disso. Esperava por isso. E continua esperando.

Mas não tem melancolia no seu olhar.
Ela passa os olhos pela receita que tem nas mãos. Uma fatia de bolo depende de todos aqueles ingredientes. Depende das mãos dela, do carinho que põe ao misturar cada iten, depende da sua habilidade, da batedeira, do calor do forno.

Depende da sua atenção, de que ela não esqueça no fogão.
Depende das vasilhas, da forma bem untada, do ponto da manteiga, do frescor da maçã e da validade da levedura.

Depende, principalmente, do tempo dela. Tempo para sair, comprar, voltar, preparar, esperar, cortar e enfim, finalmente o enfim, comer.

Uma só fatia de bolo e tantos minutos dependendo dela.

E não é assim a vida? Um eterno preparar-se para uma espera cujo objeto será consumido? Tantos melhores poetas já trataram da efemeridade do instante, da vida, do saborear-se. E que vou eu elocubrar?

Espero.

Sei que espero e sei pelo que espero.
Mas não me arranque tudo isso de uma vez.
Não me obrigue a perder algum detalhe, algum componente da receita.

A fatia de bolo deliciosa precisa de cada ingrediente, de cada etapa e de todos os minutos consumidos...



Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
CLARICE LISPECTOR

terça-feira, abril 21

café da manhã

A cafeteira ainda sorve goles de água e o cheiro de café começa a enfeitiçar o apartamento dela. Não a comove. Senta à beira do sofá, não liga nenhum outro aparelho. E esquece.

Esquece que dia é hoje.
Esquece qual era mesmo a programação que faria...
Trabalho? Feriado?

Agora o convite da cafeteira é quase um insulto: --- Acabei, pronto, levante-se.

Ela olha e pensa. Só tem um pensamento.
Quer dizer, vários combinados, mais saborosos que o café quentinho que a chama por consumí-lo.

As cenas se misturam entre as vividas, as esperadas, as contempladas e, claro, as palavras, escritas e agora, que diferença, ditas.

O tema não fica velho, não esfria, não, isso não é notícia.
E, por acaso, neste caso, ela se importa?

A xícara está cheia. A cama, desarrumada, tal como seus cabelos.
Ela ve a cena e sorri. Não tem do quê. Mas sorri. E precisa ter por quê?

Ao contrário do clichê, ainda bem!, ela não se perde em melancolia ou falsas saudades do que passou. E adianta? As lembranças ainda vivem com ela, a história fica mais real, embora, agora, continue a viver apenas dentro dela, silenciosamente.

Claro que várias perguntas ainda tremulam e a dispersam. Como foi que ele chegou? Qual a verdadeira impressão que ficou nele? Quanto está a pensar em tudo? Quando o vejo outra vez?

Mas não é um interrogatório tenso, aflito, ansioso. Ela se espanta com isso, ainda que seja bom. Não precisa ser tenso, nem ansioso. Não.

Fica mais bonito a cada dia.
Com toda a espera que isso significa.

E ela está aprendendo que o tempo deixa a espera valiosa, que o tempo cultiva os melhores momentos, na época certa. Sem, claro, deixar de surpreender, de vez em quando.

O café ficou uma delícia.
Não seria ruim mesmo se pudesse dividir mais esse sabor... (e o insistente pensamento, ah, vai não é ruim, volta a tirar suas idéias do lugar).

sábado, abril 18

não sou poeta, nem tento

Nunca esforcei a mente
por fazer poesia

Elas me brotam
da cabeça
para virar logo
bando de rima fria

Nunca fiz malabarismo
para juntar as estrofes

Elas descem correndo
como crianças
na escadaria

Nunca fiz poemas
ao calor de uma sinfonia

Ou no suor de uma procura
de uma rima que não vinha

Nunca fiz poemas
só deixei a alma
vazia

quinta-feira, abril 16

pré-indicações

Traga a alma inteira
sem embalagens de presente

Ponha na mala
um pacote de jujubas

Não esqueça o olhar pacífico, decidido, analítico

Recarregue as baterias da máquina, do celular, do MAC

Prove antes um bom vinho

Tenha em mãos um livro

Vista-se como da última vez
que saiu sem medo de se apaixonar

Ah! Esqueça o casaco no carro... não vai fazer frio.

tentaram

Alguém me avisou
espera e vai com calma

Outra pessoa se adiantou:
administra suas expectativas

E ainda, em outro instante, ouvi
não vá atirar o coração de graça.

Mas nenhuma delas
ninguém mais
fez em mim
o mesmo efeito definitivo
que você causou.

quarta-feira, abril 15

Chove, ouço Tom Jobim

Quando chove, eu ouço Tom Jobim. Acho que combina. Mas gosto de escutar o Maestro Brasileiro em dias quentes e alegres também.

Quando passo no Elevado do Joá, quando estou no Rio, gosto de ouvir Lulu Santos.

Quando vou correr, a trilha tem que ter algo do Linking Park.

Quando leio em inglês, a música é brasileira.
Quando leio em português, a música é estrangeira.
E para ler poesia, prefiro a trilha sonora do filme Amélie Poulain.

Quando cozinho, ouço Beach Boys.
Quando escrevo, algo folk.
Quando dirijo, nos dias contentes, tem que ter Cake.

Ao trabalhar, ouço várias trilhas. Mas sempre tem que ter Beatles, por vezes Belle e Sebastian.

Com vontade de dançar: Maria Rita, Seu Jorge.
Querendo cantar junto: Marisa Monte.
Para namorar: Frank Sinatra, Jonhny Cash.

Ao andar de ônibus, Franz Ferdinand é imbatível (no último volume, claro).

Na dúvida, e que sempre acaba combinando com tudo: peço para o Jack Johnson cantar.

E para apreciar, simplesmente, sem outra coisa a atrapalhar: Ella Fitzgerald, Nick Drake, Radiohead, Beatles, Bob Dylan.

A minha vida tem sim trilha sonora. E como poderia ser diferente?

(E não necessariamente tudo isso como ordem e regra geral. Por vezes, a gente muda o disco, não?)

terça-feira, abril 14

ela contempla... imagens

Ela acorda com os olhos no celular. Ainda é cedo, mas ela quer saber se a bateria está carregada. Ninguém deve ligar, ela sabe, está viajando. Mas precisa ter certeza que o telefone não vai desistir de trabalhar durante o passeio.

Ele não é apenas seus ouvidos, é também seus olhos, comporta e substitui toda sua capacidade de contemplar.

A cada impulso, a cada descoberta - era a primeira vez no Rio em 11 anos de vida - rapidamente o testemunha portátil era ativado. Outra imagem.

Clica o aeroporto, o Cristo Redentor, o Corcovado, o Aterro do Flamengo.
Depois, as areias da praia da Barra, a Lagoa de Jacarepaguá, o quero-quero da varanda.

A vista do elevado do Joá? Ela quer levar para casa.
A garça que acabou de pousar no jardim? Ela quer levar para casa.
As flores que enfeitam a mesa da sala? Ela quer levar para casa.
Os coelhinhos de chocolate do café da manhã? Ela quer levar para casa.

E as imperiais palmeiras do Jardim Botânico?
Ela pára para ver e espera... e vê a imagem com calma, no celular.

Ele registra tudo, episódios, pessoas, caras e bocas, comentários...
Registra as cenas, guarda cada momentum tão detalhadamente que dá para fazer animação quadro a quadro depois.

Cadê a paciência de olhar?
E a calma de tentar guardar aquele verde na memória?
Para onde foi a paz de não precisar ter todas as fotos do que acontece no Orkut?
Quem roubou os momentos ùnicos e compartilhados, que ficam sem precisar de marca física?
E quem disse que toda a vida precisa de imagem?

Meus olhos fotografam, mas descansam também.
Talvez eu esteja ficando velha.
Talvez não seja tão high tech quanto imagino.
Ou simplesmente ainda queira muitas muitas muitas coisas à romântica e lenta moda antiga.
Será?

sexta-feira, abril 10

Durona, eu?



Eu tinha seis anos quando me descobri dura na queda. Vi que nada daquela menininha de meia-calça colorida e vestidinho existia dentro de mim.

O episódio foi simples. Brincávamos eu e meu melhor amigo (sim, meu melhor amigo de infância era um menino) de subir no carro e pular de cima do capot. Daí lógicamente veio o acidente. Era de noite e o Rodrigo conseguiu pular e cair em cima de mim.

Foi uma dentada certeira na minha cabeça. Horrível.
Eu não chorei. Sério. Só percebi que estava sangrando e chamei mamãe. Ao sair para o hospital, passamos ao lado da casa dele. E lá estava Rodrigo, aos berros, passando gelo no dente! E eu indo para o hospital. Levei três pontos na cabeça, tenho ainda a cicatriz.

Naquela altura, eu percebi, bom, vai, não sou menininha... E depois, nas mudanças da vida, lembro da mamãe a brigar com o papai: --Não deixa a menina carregar isso! E quando ela olhava para o lado, eu levantava sem muito esforço e ela entendia. Eu queria ajudar e não era tão pesado assim...

Os anos se passaram e vi que não sou mesmo do tipo mulherzinha (mas não me entendam mal, gosto de carinho e atenção). Nem curto tanto usar rosa. Mas não é só isso. Não sou de muitas delicadezas. Quero eufemisticamente dizer que sou roots. E estabanada.

Agora, nesse breve feriado, outra prova. Consegui bater de cara nos degraus da piscina. E sair sangrando como se estivesse num filme de ação e sem chorar. Na verdade mesmo, meus olhos se encheram de lágrimas quando cheguei ao Hospital (na Ilha, no Rio, onde nasci), e lembrei que era a primeira vez que eu voltava ali depois da morte do meu avô Joaquim. Ainda sinto falta deles (dos avós maternos, que já perdi).

E aqui estou, meio sem olho, meio pirata, arrasada por ter perdido dois maravilhosos dias de praia. Mas tão contente, por uma série de bons motivos, que não vou duvidar que essa vida é mesmo muito boa! Inclusive quando a gente só tem um olho para contemplar o Jardim Botânico (vejam as fotos novas no flickr).

quinta-feira, abril 9

uivo

Não passava das cinco da tarde
e ela ouviu o ruído daquela ventania habitual
levantou, vestiu o vestido azul e saiu

tinha de ver o mar bagunçado
e deixar seus cabelos assim embaraçar
naquele uivo repetido, gostoso, quase harmônico

o dia estava triste
mas a alma dela vinha louca
louca de descobertas
louca de perceber-se
nova, outra vez
jovem, como sempre
madura, quase

e esse uivo
tão remiscente da infância
tão presente nos momentos
de pensar
esperar
e de pausa

agora era o marco que precisava
para dizer-se
minha vida ainda pode ser tudo

basta deixar
o vento me descabelar.

sorriu e olhou para o lado.
lá estava ele, quieto, suave, a lhe espiar.

segunda-feira, abril 6

quero um amor de amarrar a bicicleta


Tirei essa foto e depois que revelei, lembrei dessa música, que gosto tanto, do Jack Johnson.

Ele narra como deu um jeito de chamar a atenção da menina que gostava no colégio: de propósito, fechou a bicicleta dela com a dele no mesmo cadeado.

Ela teve de esperá-lo e... resultado: estão juntos há mais de dez anos.

Segue parte da letra
I was so crazy about you, I didn't mind
So I was late for class, I locked my bike to yours
It wasn't hard to find, you'd painted flowers on
Guess that I was afraid that if you rolled away
You might not roll back my direction real soon

domingo, abril 5

Hoje

Hoje quero abrir a janela para ver algum avião passar
quero ligar o som e esperar Pet Sounds tocar

quero correr para o telefone com
a certeza de ver seu nome na tela

quero achar poesia no meio dessas
simples ocorrências

quero ter um novo verso a cada duas horas

quero esperar uma resposta tua
a cada 7min ago

quero deixar de lado minhas forçosas
desculpas editoriais
que censuram de vir a tona o que
você me provoca

ou que publicam segredos de pé de ouvido
ou de palavras ditas em silêncio

quero conseguir lembrar a tua voz
e dentro dela encaixar a melodia de tuas poucas palavras

quero hoje que o dia passe rápido
que a semana seja farta e cheia de novas descobertas

e que aquele domingo prometido
me traga uma liberdade indescritível
e o mesmo tempo tão real e tão gorda
que tenha de ser vivida a dois

e repetida

repetida

tantas e tantas vezes depois.

quinta-feira, abril 2

quero um amor de Pierrot



Sabe quando mereceria que a música ficasse em câmera lenta?
E olha que era o Galo da Madrugada! Mas chegou esse casal de mais de meia-idade com o rodopio singelo fez a multidão parar e olhar.

O envolvimento dos dois, a cumplicidade, a alegria de comemorar tantos anos juntos estava tudo ali estampado no rosto, maquiado, de cada um.

Me fez pensar: quero um amor de Pierrot.

(e olha que eu postei isso DEPOIS do 1º de abril)