Ela acorda com os olhos no celular. Ainda é cedo, mas ela quer saber se a bateria está carregada. Ninguém deve ligar, ela sabe, está viajando. Mas precisa ter certeza que o telefone não vai desistir de trabalhar durante o passeio.
Ele não é apenas seus ouvidos, é também seus olhos, comporta e substitui toda sua capacidade de contemplar.
A cada impulso, a cada descoberta - era a primeira vez no Rio em 11 anos de vida - rapidamente o testemunha portátil era ativado. Outra imagem.
Clica o aeroporto, o Cristo Redentor, o Corcovado, o Aterro do Flamengo.
Depois, as areias da praia da Barra, a Lagoa de Jacarepaguá, o quero-quero da varanda.
A vista do elevado do Joá? Ela quer levar para casa.
A garça que acabou de pousar no jardim? Ela quer levar para casa.
As flores que enfeitam a mesa da sala? Ela quer levar para casa.
Os coelhinhos de chocolate do café da manhã? Ela quer levar para casa.
E as imperiais palmeiras do Jardim Botânico?
Ela pára para ver e espera... e vê a imagem com calma, no celular.
Ele registra tudo, episódios, pessoas, caras e bocas, comentários...
Registra as cenas, guarda cada momentum tão detalhadamente que dá para fazer animação quadro a quadro depois.
Cadê a paciência de olhar?
E a calma de tentar guardar aquele verde na memória?
Para onde foi a paz de não precisar ter todas as fotos do que acontece no Orkut?
Quem roubou os momentos ùnicos e compartilhados, que ficam sem precisar de marca física?
E quem disse que toda a vida precisa de imagem?
Meus olhos fotografam, mas descansam também.
Talvez eu esteja ficando velha.
Talvez não seja tão high tech quanto imagino.
Ou simplesmente ainda queira muitas muitas muitas coisas à romântica e lenta moda antiga.
Será?
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