Somavam-se umas 72 horas de maratona.
Os dois estavam abatidos. Iam no terceiro carro do metrô das 17h45.
Não havia bancos, nem espaço para segurar. E por dentro, Julia amargava a novidade. Depois da Sé, consegue sentar. Suspira. O marido não vê mais ninguém na frente, só ela. Embora não tenha o que dizer, e bem que não queira, acompanha a dor silenciosa dela, como se a pudesse recolher um pedaço desse mal estar com os olhos.
Julia não queria estar ali. Reflete, se retorce.
Não consegue voltar os olhar ao marido. Perde a vista no pacote, grande, de roupinhas cor de rosa bebê compradas na 25 de março. O sacolejo do metrô embala os pensamentos dela. O aperto de gente atrapalha e segura as lágrimas dela. Burburinho de pés, portas e sacolas invade o deslocamento dela.
Pobre. Como se sente pobre.
Ao desembarcar, ele pega as sacolas dela. E num breve alívio, Julia se permite chorar. Muito. Aproveita as mãos ocupadas do marido e chora longe do abraço dele. Aperta o passo. Sai na sua frente.
Ele entende o recado. Espera e caminha sem a perder de vista.
Não queria sair do hospital, não queria voltar para casa sem o filho. Não quer entrar no quarto dele, perfumado, pronto para a chegada. Não. Por que?
Na entrada da casa, pequena, no alto da rua, Julia pára e observa o carro estacionado. O marido a alcança. Também se desconcerta. Reconhece a placa, sabe que são os pais dela.
Julia olha para trás. Arranca a chave da bolsa. As mãos tremem.
No sofá, espera a mãe. O pai, agora avô, vem trazendo o café. Ela sorri. Não esboça alívio. Mas lembra da cara amassada pelos soluços e sacolejos da viagem. Ajeita o cabelo, espera o abraço da mãe.
Minha filha, Henrique já vem.
A casa dele é aqui.
Ela esquece de se controlar ...
Olhos transbordantes agradecem a mãe. Mas ela só queria o primeiro filho, agora, em seus braços.
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