segunda-feira, maio 8

Pechincha na calculadora

Me disseram que não teria outro lugar que a feira para comprar aquele HD portátil de 50 giga de memória em Taiwan. Eu só falava inglês, além do português.

Naquela quarta chuvosa o camarada chinês que me fazia as vezes de intéprete não poderia ir comigo. E era minha última oportunidade. Peguei o táxi com o endereço anotado em desenhos para mostrar ao motorista.

Cheguei a feira com minha capa de chuva amarela muito discreta (!) e uma única recomendação na cabeça: olha não aceite o primeiro número que o vendedor te apresentar na calculadora.

Sim, você não leu errado. Naquele comércio paralelo não havia etiquetas com preços. Tudo era acordado na hora, cara a cara. Com os estrangeiros, a técnica é uma mistra de imagem e ação. Você chega, aponta teu produto e depois faz o gesto internacional de dindin com os dedos. O vendedor pega a calculadora e escreve o preço em dólares. Você pega a calculadora e aponta o seu preço. E o duelo começa. Até que ele balança a cabeça num acordo.

E eu, que sempre detestei essa de pechinchar valores, já fui me preparando para não dar uma de turista otário.

Quando pedi -- não me pergunte como -- por um HD portátil que era lançamento na época, com mais gigas de memória, o rapaz muito contente, o que me deixou cabreiro, foi buscar pois não estava nas prateleiras da frente da lojica. Quando voltou, me deu a calculadora.

Sem preço. E apontou para mim num gesto: e você, quanto está disposto pagar?

Eu gelei. Não tinha noção. E se eu pagasse muito? E se meu valor fosse exageradamente baixo e ele desconfiasse que eu não tinha muito claro o quanto aquilo valia, já que se tratava de um lançamento?

Insisti para que ele me desse um valor. Ele riu marotamente e fez que não.
Decidi não arriscar e comprei outro, de menos memória a um preço muito bom. Não me arrependo. Já sou muito azarado, não queria dar mais chance a acaso.

[essa quem contou foi a Lenise, dona das melhores estórias, mas aconteceu com um colega dela.]

2 comentários:

Anônimo disse...

Se virar em outros países, principalmente não falando a língua local não é nada fácil.

Anônimo disse...

Nossa Fe, seu blog é muito legal! Adorei as historinhas! Bjo
Manu